Após uma série de ações de redução de gastos divulgadas pela administração dos Correios, os empregados estão solicitando a constituição de um grupo de emergência para lidar com a situação da companhia.No último dia útil da semana (9), a companhia estatal apresentou um documento exibindo um déficit de R$ 2,6 bilhões no ano passado.
Com o intuito de modificar a situação, os Correios comunicaram que almejam economizar R$ 1,5 bilhão este ano. Para isso, a gerência estipulou, entre outras providências:
- Interrupção de folgas em 2025,
- Diminuição nos horários de trabalho acompanhada de redução salarial,
- Transferência de carteiro e atendentes comerciais para centros de tratamento de maneira voluntária e temporária,
- Obrigatoriedade do regresso ao trabalho presencial.
Em um comunicado, os Correios explicaram que a aplicação do plano de diminuição de gastos tem como meta reforçar a viabilidade financeira da empresa e assegurar a continuidade dos serviços oferecidos à população.
“Mesmo que 85% das unidades sejam consideradas não rentáveis, os Correios garantem a disponibilidade universal dos serviços postais, com tarifas equitativas, em cada um dos 5.567 municípios atendidos”, mencionou a organização.
Dentre as medidas estão também a extensão do programa de desligamento voluntário (PDV) até 18 de maio, mantendo os critérios atuais de elegibilidade; a revisão da estrutura da sede da empresa, com corte de pelo menos 20% no orçamento de funções; lançamento de novos modelos de planos de saúde, com economia prevista de 30% para a empresa e para os colaboradores.
O plano ainda envolve o compartilhamento de unidades operacionais; venda de imóveis desocupados; revisão de contratos; reestruturação da rede de tratamento e de atendimento; otimização da malha operacional e logística; lançamento de uma plataforma de e-commerce e abarca a obtenção de R$ 3,8 bilhões com o New Development Bank (NDB), o banco dos Brics.
“Com a aplicação das medidas e a obtenção de investimento do NDB, a previsão é diminuir 12% dos custos operacionais e aumentar o lucro operacional da empresa em cerca de R$ 3,1 bilhões ao ano”, mencionou o comunicado dos Correios.
Espaço de conversa
Com o anúncio, a Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Findetec), uma das entidades representativas dos empregados dos Correios, afirmou que se tornou imprescindível a criação de um canal de diálogo permanente entre a gestão da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) e seus empregados.
“Transformações estruturais somente têm efetividade quando debatidas com quem opera a empresa diariamente. A transparência nos dados financeiros, operacionais e atuariais, compartilhados previamente com representantes dos empregados, previne retrocessos e possibilita a criação de resoluções em sintonia com a realidade da base”, disse a Fentec em documento enviado ontem (14) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A entidade solicitou uma reunião com o mandatário para dialogar a respeito das questões.
A Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares (Fentect), outra entidade representante dos empregados da companhia, revelou que vai lançar um Comitê em Defesa dos Correios, na próxima quarta-feira (21), na Câmara dos Deputados. Conforme a entidade, a ação conta com o apoio da Frente Parlamentar em Defesa dos Correios.
Dívida
Além da constituição do Comitê, os trabalhadores desejam a suspensão de qualquer medida que prejudique a qualidade dos serviços ou os direitos dos funcionários durante as negociações e a restituição dos lucros repassados ao governo federal entre 2011 e 2013. Nesse período, foram repassados à União cerca de R$ 3 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio.
Segundo um relatório de avaliação dos resultados de gestão dos Correios, formulado pela Controladoria-Geral da União (CGU) em 2017, a empresa evidenciou crescente deterioração em sua capacidade de quitar dívidas a longo prazo (liquidez) entre 2011 e 2016.
Adicionalmente, os Correios experimentaram aumento do endividamento e da necessidade de capitais de terceiros e, majoritariamente, redução drástica de sua rentabilidade, com a geração de prejuízos progressivos a partir do exercício de 2013.
Segundo a CGU, devido ao contínuo crescimento dos prejuízos acumulados, o patrimônio líquido diminuiu aproximadamente 92,63% no período.
Na análise das entidades laborais, a retirada de recursos resultou em acentuada redução no capital de giro e redução de investimentos essenciais em tecnologia, infraestrutura e logística. Elas indicam ainda que foram esses os fatores que impulsionaram “a espiral de endividamento e obrigaram a contratação de empréstimos emergenciais”.
“A recomposição desses recursos no caixa da ECT permitirá a retomada de projetos estratégicos, como a modernização de centros de triagem e a implementação de soluções logísticas inteligentes, sem qualquer prejuízo aos direitos ou benefícios dos funcionários, preservando a universalidade dos serviços postais”, menciona o ofício enviado à Presidência.
Perspectiva contrária
Por meio de um comunicado, os Correios destacaram que as medidas divulgadas buscam garantir a sustentabilidade econômica-financeira da empresa, com iniciativas de curto a médio prazo, em diferentes frentes.
Sobre as negociações com os funcionários, a empresa enfatizou que, nos últimos dois anos, após amplo diálogo com os sindicatos, mais de 40 cláusulas que haviam sido abolidas pelo governo anterior foram restabelecidas por intermédio de acordo coletivo firmado em mesa de negociação.
“A administração atual dos Correios mantém canais abertos por meio de uma mesa de negociação permanente com as colaboradoras e os colaboradores, e ratifica seu compromisso com a valorização do diálogo e o respeito às demandas da categoria”, refere a nota.
Em relação ao empréstimo negociado junto ao banco dos Brics, a assessoria dos Correios informou que a expectativa é que as negociações sejam concluídas ainda este ano. Segundo a nota, os recursos serão utilizados na implementação do Programa de Modernização e Transformação Ecológica dos Correios, que revolucionará o segmento postal e logístico brasileiro. As negociações estão em andamento, com previsão de encerramento neste ano, de acordo com a estatal.
“Os investimentos viabilizarão a execução de um amplo plano de recuperação da estatal, com foco em inovação e descarbonização, otimização das operações logísticas, transformação digital e capacitação institucional, ou seja, iniciativas de infraestrutura e desenvolvimento sustentável alinhadas à estratégia de fomento do Banco dos Brics”, informa a nota.
*Artigo atualizado às 14h16 do dia 16 de maio para incluir posicionamento dos Correios
Fonte: Agência Brasil
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