O presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo, está habituado a ser indagado sobre a política monetária. Será que a Selic irá aumentar? Será que será mantida? Será que cairá em que momento? Neste dia, um dia antes do começo do período de silêncio por parte dos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom), contudo, o presidente do BC focou em outros assuntos. Discorreu sobre os fundamentos da agenda de trabalho do BC, que se desdobra em tópicos como comunicação, crédito e avanço institucional.
Não havia qualquer sinal sobre as decisões que serão tomadas pelo Copom a respeito da taxa básica de juros na reunião da próxima semana, conforme enfatizado por Galípolo: “Não existe mensagem a ser transmitida em relação ao Copom”.
Essa abordagem ressalta o papel crucial que a comunicação tem desempenhado no trabalho dos BCs. “Comunicação é um tema relativamente recente para o Banco Central. O BC iniciou seu contato com a sociedade de certa forma há 30 anos. Anteriormente, nem as decisões de política monetária tinham nenhuma governança na comunicação como possuem hoje. Dizem os livros que, naquela época, quando os jornalistas queriam saber se houve alteração na taxa básica de juros, tinham que telefonar para as tesourarias dos bancos para saber se as taxas das compromissadas tinham sido modificadas”, relatou Galípolo.
No entanto, ele destaca que a comunicação se tornou fundamental para o BC nos dias atuais. “É uma ferramenta totalmente crucial para a eficácia da política monetária, ao ponto de essa comunicação sobre política monetária ter se tornado uma disciplina própria. Indivíduos se dedicam a decifrar o significado de cada palavra, mas esse processo envolve um vocabulário de política monetária que é bastante obscuro para o público em geral”.
Nos últimos tempos, o BC brasileiro tem buscado se conectar com a sociedade. Não é por acaso que o perfil do Bacen nas plataformas de mídias sociais está cheio de brincadeiras, vídeos informativos e memes.
“O BC tem o comprometimento de ampliar cada vez mais a comunicação com outros públicos. Isso tem representado um grande desafio para todos nós banqueiros centrais. Acredito que o BCB seja um exemplo de sucesso, com uma equipe extremamente criativa que utiliza as redes sociais para abordar especialmente as inovações ocorridas nos últimos anos e qual o impacto dessas inovações na vida das pessoas”, afirmou Galípolo. Segundo ele, o BIS (também conhecido como o banco central dos bancos centrais) chega a utilizar a equipe brasileira como consultora.
Esse diálogo se estende também ao setor produtivo. Galípolo mencionou o próximo lançamento do informativo Firmus, que terá como objetivo ouvir empresas do setor não financeiro para compreender quais são suas expectativas em relação às principais variáveis macroeconômicas – de maneira análoga ao que o Boletim Focus realiza semanalmente.
Inovação do sistema financeiro
Galípolo também abordou o que descreveu como transformação no sistema financeiro brasileiro ocorrida recentemente, que promoveu a inclusão financeira e o surgimento de novos produtos e serviços.
Como ilustração, ele relembrou os avanços do PIX deste ano. Logo neste próximo mês, por exemplo, terá início o PIX automático, possibilitando pagamentos recorrentes. “O Pix automático irá facilitar o recebimento por parte das empresas, que não necessitam ter contrato ou conta na instituição financeira do cliente para a cobrança do débito automático, além de proporcionar maior segurança para o cliente, com menor risco de clonagem do cartão”. Ademais, essa ferramenta permitirá que os brasileiros sem cartão de crédito tenham acesso a serviços de assinatura online, lembrou ele.
O presidente do BC também mencionou o PIX por aproximação, que, segundo ele, traz mais rapidez e segurança para os pagamentos, o PIX parcelado e o PIX em garantia, possibilitando o uso de fluxos futuros de pagamento no PIX como garantia em transações de crédito.
Crédito com segurança
Entre os alicerces da agenda do Banco Central, Galípolo ressaltou a ampliação do acesso a créditos com custos mais baixos. Para isso, enfatizou a importância de facilitar a colateralização dos créditos – em outras palavras, tornar mais simples a contratação de empréstimos com garantia, os quais tendem a ter taxas de juros inferiores a linhas como o rotativo do cartão de crédito ou crédito pessoal.
“Aumentar o processo de colateralização para que a população possa efetuar financiamentos de forma mais planejada, evitando recorrer tanto a linhas de crédito vistas como mais urgentes e que não deveriam ser acessadas de forma regular”, destacou Galípolo.
Até mesmo o DREX, a moeda digital do Banco Central, desempenha um papel relevante nessa trajetória. “A agenda do DREX consiste principalmente em ser um DLT [distributed ledger technology, uma forma de infraestrutura de dados], que utilizará contratos inteligentes e tokenização para facilitar a colateralização de ativos para créditos com garantia”, mencionou. “Queremos progredir nessa iniciativa de reduzir a percepção de risco por parte dos que concedem crédito e facilitar a garantia para os que buscam crédito”, acrescentou.
Poupança e crédito imobiliário
Galípolo também abordou brevemente a redução do volume de investimentos na poupança e seus impactos para o país. Atualmente, os recursos da caderneta representam a principal fonte de financiamento para o mercado imobiliário. Contudo, nos últimos anos, esses recursos têm se tornado mais escassos.
“Percebo que é uma questão mais estrutural, a poupança apresenta uma remuneração difícil de competir com outras alternativas”, afirmou. “Isso desafia o BC e o sistema financeiro a buscarem alternativas de financiamento, de modo a migrar para outros modelos de financiamento habitacional. [Estamos estabelecendo] uma transição para um modelo de financiamento que utilizará captação de mercado e visa alcançar uma participação adequada do crédito imobiliário em nosso PIB”.
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Fonte: Bora investir
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